A Psicologia das Emoções em Divertidamente
A última animação da Disney/Pixar – DivertidaMente – está sendo um grande sucesso de público e de crítica. A ideia é genial. O filme retrata, de forma divertida e ao mesmo tempo educativa, como agem as emoções dentro do cérebro de uma adolescente de 11 anos. E tudo isso com muito embasamento científico.
O filme recebeu a consultoria de um dos psicólogos mais importantes e reconhecidos no campo do estudo das emoções, Paul Ekman. Há anos venho ensinando suas teorias, em meus cursos de Psicologia Positiva. Paul Ekman é responsável por ter decodificado as expressões faciais das emoções, tendo viajado até as áreas mais remotas e pouco civilizadas do mundo (como a Papua Nova Guiné), para identificar quais seriam as emoções básicas universais, aquelas que compartilhamos com todos os seres humanos, independente da cultura. E assim, ele chegou a 6 emoções básicas, que são facialmente expressas da mesma maneira, em qualquer lugar do mundo: alegria, medo, tristeza, aversão, raiva e surpresa. Alguma semelhança com DivertidaMente?
Após ter decodificado as microexpressões faciais, Ekman era capaz de detectar que emoção uma pessoa estava sentindo e, assim, também saber se ela estava sendo sincera a respeito do que dizia. Em outras palavras, Ekman era capaz de dizer se uma pessoa estava dizendo a verdade ou mentindo, habilidade que o levou a prestar muitos serviços à CIA e ajudar a desvendar crimes e prevenir ações terroristas. Tal fato inspirou a série “Lie to me” (Engana-me se puder), que também recebeu sua consultoria.
Mas, voltando a DivertidaMente, o filme mostra como nossas memórias são coloridas pelas emoções, como elas passam das memórias de curto prazo para de longo prazo, como as memórias importantes estruturam ilhas da nossa personalidade, como as outras são esquecidas ou reprimidas em nosso subconsciente, como elas surgem em nossos sonhos, pensamentos e na nossa imaginação. Mas o grande mérito, na minha opinião, é ensinar às crianças (e também adultos) que todas as emoções são importantes e que cada uma dela possui uma função. O medo nos protege do perigo, a raiva nos faz lutar pelo que queremos, o nojo ou aversão nos afasta daquilo que pode nos causar algum mal. Mas e a tristeza? E a alegria?
Alegria é a protagonista em DivertidaMente, mas a grande estrela do filme é a Tristeza. Durante quase todo o filme ela é reprimida e tratada pela Alegria como um perigo à felicidade da menina Riley. Mas, no final, Alegria descobre que a Tristeza tem uma importância fundamental e que, ao invés de ser reprimida, precisa ser integrada. Que linda cena ver as memórias coloridas de dourado (alegria) e azul (tristeza) conjuntamente! Sempre falei isso nas minhas palestras, que é possível sentir alegria e tristeza ao mesmo tempo, e que essas emoções não são opostas. Quando lembro de momentos felizes que vivi com minha mãe, sinto-me alegre por esses momentos, e ao mesmo tempo triste por ela não estar mais aqui. A tristeza nos ajuda a aceitar nossas perdas e a lidar melhor com elas. Ela nos lembra que não estamos sozinhos e nos faz nos aproximar das pessoas que são realmente importantes para nós. E a alegria nos faz sentir vivos, nos dá energia para querer viver a vida com plenitude, realizando nossos sonhos e propósitos, e nos conectando a todas as pessoas, com sentimentos de amizade, amor e gratidão.
*É psicólogo, coach, mestre em Psicologia Social e do Trabalho (USP), professor de Psicologia Positiva, autor do livro Flow e Psicologia Positiva e editor do blog www.flowpsicologiapositiva.com.
1 Comentário
Parabéns!
Boa colocação sobre o filme.
Esse filme é incrível e sempre recebimento aos meus clientes.
Dá uma excelente sessão de terapia.
Agradecida